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O que eram as "joias de crioula"

HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA BRASILEIRA

Como tudo na rica e profunda história da cultura brasileira, muitos termos da língua portuguesa e objetos, às vezes habituais em nosso cotidiano, têm no ponto de sua origem, detalhes que podem passar despercebidos pelo nosso senso crítico cotidiano.

Como boa curiosa que sou, estou sempre à procura de novas informações, sobre todo e qualquer assunto.

Estudando um pouco mais sobre a minha profissão, a história da joalheria brasileira, descobri o termo e os objetos chamados de "joias crioulas" ou "joias de crioula" em duas literaturas diferentes.

A primeira, em um livro da gemóloga Mariana Magtaz e a segunda na biografia da designer de joias Ruth Grieco.

REFERÊNCIAS HISTÓRICAS

"Foram criadas as chamadas jóias de crioulas, especialmente na Bahia, para mulheres negras e crioulas nascidas no Brasil, sendo estas de uma expressão ímpar de um estilo brasileiro.

A estética da riqueza e do exagero exteriorizava o luxo e sinalizavam poder e distinção. Escravas e amas de leite de lares abastados circulavam ostentando enormes peças de ouro, exibindo assim o poder de seus senhores."
BRODBECK, Didier. Ruth Grieco, poetizando a joalheria. 1 Ed. Hong Kong: Dazzling Books, 2011. 17 e 18p.

Imagem de autor desconhecido - Baiana do séc XVIII

Na imagem vemos uma negra baiana do séc. XVIII com luxuosos colares, braceletes e pentes de cabelo confeccionados em ouro e ricamente detalhados.

Podemos encontrar joias muito similares às da ilustração acima no acervo do museu Costa Pinto, em Salvador, BA. 

Correntão de ouro e pente de tartaruga e ouro / Imagens retiradas do site do Museu Costa Pinto - BA

MODA E RELIGIÃO

No Brasil colonial é praticamente impossível dissociar a moda da religião.

Funcionário a passeio com sua família / Obra de Jean-Baptiste Debret

Os usos e costumes estavam diretamente ligados às tradições católicas e toda a indumentária usada na época refletia isso. Com as joias de crioulas não foi diferente.

É possível observar essa integração cultural nas obras do artista plástico Jean-Baptiste Debret, que retratou largamente o cotidiano do Brasil Império entre os anos de 1816 a 1831.

Família brasileira no Rio de Janeiro / Obra de Jean-Baptiste Debret

Alguns de seus quadros retratam a convivência privada de alguns escravos e seus senhores, mostrando como, a partir desse ponto, não seria mais possível separar a cultura de cada um, mas sim, cada vez mais, unificá-las.

Assim, aos poucos, os símbolos e amuletos das religiões africanas foram se incorporando aos elementos do catolicismo, para que assim, os negros pudessem usar suas joias religiosas livremente já que estariam "cristianizadas". 

Penca de balangandã de prata com 27 peças / Foto: Saulo Kainuma

"A origem dessas joias, que nem sempre eram de ouro maciço, provém dos cultos religiosos afro-brasileiros onde a técnica da fundição foi introduzida pelos negros 'malês', que já conheciam na África as propriedades e o manuseio dos metais.
Nos terreiros de candomblé o artesão que produzia os objetos usados nas cerimônias era chamado de 'ferramenteiro' ou 'ferramenteiro de santo'.
Seu trabalho era produzir as ferramentas dos orixás, as figas, os encastoamentos de dentes, e outros objetos que ficavam expostos nos pejis (santuários), além dos objetos corporais femininos como os ibós e idés (pulseiras), copos (punhos), braçadeiras e outras joias que simbolizavam as entidades divinas nas danças ritualísticas.
Algumas dessas joias religiosas saíram dos cultos e ganharam espaço entre as negras e mulatas da província. As mais conhecidas são as pulseiras escravas, os colares de contas enfeitadas com filigranas e os colares de contas coloridas. Sem falar nos amuletos amplamente difundidos pelos baianos, usados nos colares, pulseiras ou em molhos nos argolões trazidos na cintura."
MAGTAZ, Mariana. Joalheria Brasileira: Do descobrimento ao século XX. Ed. Mariana Magtaz, São Paulo, 2008 página 112

Pulseira em formato copo e correntão com amuleto de roseta / Acervo Museu Costa Pinto

TÉCNICAS JOALHEIRAS

O grande volume das joias e a riqueza de detalhes dessas peças lindamente trabalhadas, fazem com que o meu olhar profissional seja levado quase que imediatamente, a pensar em quais técnicas estavam disponíveis na época para a execução de tão belas joias.

E aí está um detalhe que talvez seja uma das coisas que mais me fascinam na profissão de ourives e joalheiro: esse é um ofício que pouco se alterou ao longo de séculos!

Nas últimas décadas a joalheria vem sofrendo grande inovação tecnológica, mas durante muito tempo foi uma profissão capaz de nos levar de volta ao passado e entender exatamente como muitas das coisas funcionavam.

Joia do acervo do museu Costa Pinto / Imagem: Band News FM
"Os colares de uma ou mais voltas eram feitos de contas ocas compostas por duas semi-esferas estriadas ou soldadas que poderiam ser lisas e polidas ou decoradas com filigrana."
MAGTAZ, Mariana. Joalheria Brasileira: Do descobrimento ao século XX. Ed. Mariana Magtaz, São Paulo, 2008 página 116

Até hoje, essas técnicas podem ser desempenhadas nas oficinas de joias, até mesmo nas mais modernas, pois existem detalhes e resultados que apenas as mãos hábeis e experientes de um excelente artesão podem alcançar.

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