Ovos imperiais de Fabergé: 1.887
O TERCEIRO OVO IMPERIAL
Quem nunca se imaginou tendo a sorte de encontrar, por acaso, um objeto valioso e ficar milionário da noite para o dia?
Pois saiba que isso aconteceu com um vendedor de sucatas americano no ano de 2.012.
Imagem: Wartski |
Vem comigo que eu vou te contar essa história desde o começo!
A TRADIÇÃO ROMANOV
No ano de 1.887 o czar russo Alexandre III já havia adquirido o hábito de presentear a sua esposa, Maria Feodorovna, com ovos de ouro especialmente trabalhados e desenvolvidos pelo joalheiro, também russo, Carl Fabergé.
Czar Alexandre III e sua esposa, a czarina Maria Feodorovna |
Na Páscoa deste mesmo ano não foi diferente, a czarina recebeu o seu terceiro presente ricamente decorado e confeccionado nas oficinas de Fabergé.
Diferente mesmo nessa história seriam os caminhos que esse precioso presente tomaria ao longo de mais de 127 anos, até ser descoberto em outro continente, há milhares de quilômetros do seu local de origem.
A HISTÓRIA DOS OVOS IMPERIAIS
A produção e entrega dos ovos de ouro Fabergé cravejados com pedras preciosas seria uma tradição na família Romanov por mais de três décadas e o costume seria passado de pai (Alexandre III) para filho (Nicolau II).
Alguns dos ovos desenvolvidos pela joalheria Fabergé para a família imperial Romanov |
O que ninguém poderia prever é que haveria uma grande revolução política na Rússia a partir de 1.914, que culminaria na revolução bolchevique (comunista) de 1.917.
Mais imprevisível ainda seria o final trágico do czar Nicolau II, de sua bela esposa e seus cinco filhos:
Nicolau II, sua esposa Alexandra Feodorovna e seus filhos: Olga, Tatiana, Maria, Anastácia e Alexei / Imagem: The Romanov Royal Martyrs |
Todos eles e sua corte mais próxima foram fuzilados no porão de uma casa na cidade de Ecaterimburgo pelos revolucionários. A partir daí, seus bens foram confiscados e saqueados ao longo de décadas enquanto Lenin, seguido de Stalin, comandavam o país.
A narrativa comunista defendia que tudo o que era supérfluo e luxuoso era desnecessário e opressor, logo, deveriam "ser trocados por tanques de guerra" e assim foi feito.
1.919: Vladmir Lenin na Praça Vermelha - Rússia / Imagem: Heritage |
Por décadas o tesouro da família Romanov e de toda a corte russa foi confiscado e revendido mundo afora. Assim também o foi com alguns dos principais ovos de páscoa produzidos por Fabergé para os Romanov: Os ovos imperiais.
A FÁBRICA DE FABERGÉ DURANTE O COMUNISMO
A empresa de Fabergé, tanto as fábricas como os pontos de venda, também não saíram ilesos da revolução comunista.
Em janeiro de 1.918 Lenin faz um discurso inflamado e estimula os revolucionários a "saquear os saqueadores".
Em poucas semanas a empresa que a família Fabergé dirigiu por quase cinquenta anos seria tomada*. (*Bainbridge, Peter Carl Fabergé, p.34)
1.919: Loja Fabergé em São Petersburgo / Foto: Eric Brissaud e Ghama-Rapho |
No livro Os ovos de Fabergé, de Toby Faber, ele descreve os seguintes fatos na página 185:
"A fome se espalhou, alcançando até os mais antigos empregados de Fabergé: naquele verão, François Birbaum, ainda principal projetista, perdeu a mulher para subnutrição"
Com Fabergé exilado e a população russa morrendo de fome, as joias e os tesouros da burguesia russa eram exportados a valores extremamente baixos, bem como os ovos de páscoa das czarinas.
A OMISSÃO DE INFORMAÇÕES SOB O REGIME COMUNISTA
É a partir daqui que o paradeiro do terceiro ovo fica nebuloso e oculto na história.
Até a década de 1.990 as informações e os documentos relacionados à família imperial estavam sob o controle das autoridades comunistas e ficavam sob sigilo, era impossível ter acesso aos inventários dos bens confiscados da última família real da Rússia.
Após a dissolução da União Soviética, o presidente russo Mikhail Gorbatchov se vê forçado a renunciar ao cargo em dezembro de 1.991. O seu sucessor, Bóris Yéltsin vem disposto a instalar uma nova política e começa a tornar públicos os documentos que estavam ocultos desde 1.917.
A partir daí, o trio formado por Tatiana Fabergé (neta de Aghaton Fabergé), Valentin Skutlof (pesquisador russo) e Lynette Proler (uma revendedora americana), consegue fazer um cruzamento mais preciso sobre as produções da fábrica de Fabergé e as informações da contabilidade da família real.
"Entre os três, eles conseguiram desenterrar faturas de Fabergé e registros de livros contábeis imperiais relacionados a quase todos os ovos. As poucas lacunas restantes foram preenchidas por outras fontes. Finalmente eles conseguiram dar uma lista exata* de todos os ovos e onde eles foram originalmente presenteados." Os ovos de Fabergé, de Toby Faber, p. 297
*O que Toby Faber não imaginava ao escrever essas linhas, é que haviam alguns erros na lista e um novo ovo seria descoberto pouco tempo após a publicação de seu livro.
A DESCOBERTA DO TERCEIRO OVO IMPERIAL
Na lista levantada pelo trio de pesquisadores constava uma breve descrição sobre um ovo com um relógio como o terceiro presente entregue à Maria Feodorovna em 1.887.
Arquivo Histórico do Estado Russo, 1.984: Marina Lopato descreve o ovo como um "ovo de Páscoa com um relógio, decorado com brilhantes, safiras e diamantes em lapidação roseta". Fonte: Faberresearch
A partir desse e outros vagos registros, assumiu-se que o terceiro ovo era o conhecido "Ovo Relógio da Serpente Azul".
Ovo Relógio da Serpente Azul / Imagem: Museu de Arte de Cleevland |
Inclusive, até a data de publicação do livro de Toby Faber essa era a certeza que se tinha. Porém, em 2.011 tudo mudaria! | |
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Em 06 de julho desse ano, no Fabergé Forum, que aconteceu no Museu de artes finas em Richmond, Virginia, EUA, os pesquisadores Anna e Vincent Palmade relataram ter descoberto uma excelente imagem somada a uma descrição detalhada do ovo de 1.887 no catálogo do leilão de 1.964 oferecido pela galeria Parke Bernet.
A nova descrição encontrada dizia o seguinte:
"Oferecido pela Sra. Rena Clark de Nova Iorque, um relógio de ouro em uma caixa em forma de ovo, em suporte de ouro moldado em três tons, cravejado de pedras preciosas. O relógio de ouro 14K em uma caixa de palheta em forma de ovo com um fecho de diamante de mina antiga de 0,75ct, da Vacheron & Constantin; sobre cavalete de ouro tricolor 18K primorosamente lavrado com anular (anel exterior de suporte), orlado por enrolamentos ondulados e pares de pernas tipo mísulas, ciséle com remate de rosas, pingente de folhinhas pendentes de patas animalescas, com esticador de argolas com três medalhões de safiras cabochão, que sustentam guirlandas de ouro tricolor ciséle muito fino de rosas e folhas, que continuam para baixo e sobre os pares de pernas, de 8,2cm de altura. Ilustrado. Preço estimado $ 2.540."
A descrição da marca do relógio Vacheron & Constantin é que seria a peça fundamental para montar esse quebra-cabeça.
Em 13 de agosto de 2.011 o jornal britânico "The Telegraph" publicou uma matéria sobre os relatos recém-descobertos pelo casal Palmade.
DE VENDEDOR DE SUCATA A MILIONÁRIO
Enquanto isso, no mesmo ano da matéria divulgada no "The Telegraph", no centro-oeste americano, um simples revendedor de sucata que teve a sua identidade preservada adquiriu em um mercado de pulgas um pequeno ovo de ouro com um relógio ricamente trabalhado pelo valor de US$13.302.
Eram todas as suas economias, mas ele tinha certeza de que revenderia aquela bela peça rapidamente e esperava lucrar cerca de US$500 com a revenda.
O tempo passou e nenhum comprador se interessou pelo ovo.
Em 2.012, desesperado e precisando de dinheiro, o homem decidiu fazer uma pesquisa no Google em que descreveu algumas características do ovo e a marca do relógio.
BANG!
Ele encontrou a matéria do "The Telegraph" e sem pensar, embarcou para a Inglaterra, atrás de Kieran McCarthy da joalheria Wartski e lhe mostrou um portfólio com as fotos do ovo de ouro que, há poucos meses parecia ser o responsável pela sua ruína financeira.
Uma das fotos tiradas pelo americano, proprietário do ovo, para provar a McCarthy a sua existência |
McCarthy seguiu com ele para os Estados Unidos, até a sua casa para ver o ovo pessoalmente.
Em março de 2.014 a joalheria Wartski anunciou publicamente que havia adquirido o ovo e revendido para um comprador anônimo. Nessa ocasião também foram divulgadas as primeiras imagens coloridas da obra de arte.
Final feliz para o Ovo, que escapou por pouco de ser derretido.
Final feliz para seu proprietário anterior que agora, certamente, desfruta de uma vida mais confortável.
E um final mais do que feliz para a história da joalheria que ganha muito com a descoberta e conservação dessa preciosidade!
Quanto ao Ovo Relógio da Serpente Azul, através de uma nova análise dos registros contábeis da joalheira Fabergé e da família real, este foi realocado na linha do tempo para o ano de 1.895. Mas os detalhes dessa história são assunto para oooooutro artigo.
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FABERGÉ POR CARLA DESTRI
1. Breve história sobre Carl Fabergé
3. 1886: Ovo Galinha de Diamantes
4. 1887: O Terceiro Ovo Imperial
BIBLIOGRAFIA
Livro: "Ovos de Fabergé - A história das obra-primas que sobreviveram ao fim de um império", de Toby Faber.
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Fontes acessados em 21.02.2023:
Terceiro Ovo Imperial: https://fabergeresearch.com/eggs-faberge-imperial-egg-chronology/
Matéria The Telegraph 2.011: https://www.telegraph.co.uk/culture/culturenews/8700286/Is-this-20-million-nest-egg-on-your-mantelpiece.html
Caça aos ovos de páscoa: https://www.apollo-magazine.com/easter-egg-hunt-third-imperial-faberge-easter-egg-resurfaced/
Descoberta de sucata é ovo de ouro de Fabergé: https://edition.cnn.com/style/article/faberge-third-imperial-egg/index.html